Encontrei outro lugarzinho para a minha lista de possibilidades: chama-se Lavras Novas, e, medido em distâncias mineiras, fica logo ali; é só continuar montanha acima depois de Ouro Preto que se chega lá.
Não gosto da palavra distrito, que é politicamente utilizada para definir Lavras Novas; vou preferir vilarejo – aqui eu posso! Gostei de lá desde a primeira descrição – “uma igreja com uma ruazinha em volta e acabou” – até quando fui descobrir que é muito mais que isso!
O encantamento começa no início da estradinha de terra, que vai se estreitando e espiralando à medida em que se sobe. Durante o percurso o medo dá lugar á admiração – seria impossível e muito injusto deixá-lo prevalecer vendo tudo aquilo! Montanha que não acaba mais, um ou outro filetezinho de água brotando e muitas rochas, enormes e lindas, precisamente equilibradas nos cantinhos mais improváveis. A impressão que se tem é que vão despencar ao menor toque, mesmo que seja da brisa gostosa que sopra lá em cima.
Mesmo nos dias de chuva, quando a gente pensa que vai ficar preso no barro ou deslizar montanha abaixo, acontece um fenômeno incrível, que pode ser explicado pela presença do minério: ao invés de escorregadia, a estrada torna-se cintilante – e é bem bonito de se ver.
Ainda da estrada já dá pra ver as casinhas lá em baixo. Quanta cor! Parece uma vilazinha daquelas das histórias infantis, tudo cuidadosamente arrumado, limpo e colorido. Que ruazinha única que nada! Milhares de construções, quase que num mesmo estilo, rústico e simples, a maioria destinada a receber e hospedar visitantes. Moradores mesmo são poucos, mas em dia de vilarejo cheio fica difícil saber quem é turista e quem não é. Todos têm a mesma cara de satisfação... Será que é só por estar lá?
Morador ou não, parece que todo mundo fica mineiro quando chega a Lavras Novas; povo simpático e alegre, sempre disposto a um dedinho de prosa. Minha alegria fica evidente já nos primeiros dias, quando sou cumprimentada pelo nome pelos rostinhos simpáticos que aparecem nas janelas ou nas portas, sempre abertas. Também com uma paisagem daquelas, quem seria louco de fechar a casa?
O vilarejo é cheio de surpresas e cada detalhe impressiona, seja pela delicadeza ou pela simplicidade. A Rua da Fonte, por exemplo, não tem fonte nenhuma, mas termina num mirante de onde se pode admirar toda a majestade das serras em volta. Fui feliz ao descobrir a tal ruazinha bem na hora do pôr-do-sol; fiquei lá para ver o Criador colorir o céu de dourado: seria irreverência dar as costas àquele espetáculo, que visto lá daquele cantinho parecia particular...
São inúmeros barzinhos e restaurantes cheios de charme; escondidos ou escancarados, todos têm em comum a qualidade da música, graciosamente compartilhada com quem passa perto.
No lugar das calçadas de concreto, muita grama verdinha na porta das casas. E adivinha só: não é proibido pisar! É um convite às brincadeiras de criança, que os adultos acabam se apropriando.
Preciso voltar lá pra seguir as placas que aparecem ao longo de todo o vilarejo, indicando cachoeiras (dos Namorados, do Trovão), grutas e a Bacia do Custódio.
O artesanato enche os olhos; descobri que gosto tanto porque consigo enxergar Deus naquilo tudo! De onde mais viria tanta criatividade que organiza a diversidade e produz algo tão lindo?
O clima também é especial. No início da manhã, não se importando por ser primavera, a neblina espessa cobre o vilarejo. Mesmo sabendo o que ela esconde, não dá para evitar minha surpresa e a habitual cara de boba quando ela finalmente desiste de camuflar a paisagem, e se rende ao calor do sol; ele brilha com intensidade durante todo o dia, para alegria dos amantes da natureza, que se aventuram pelas trilhas e montanhas. À noite o friozinho acompanha a lua, presenteando os apaixonados que estão sempre pelo vilarejo. Fiquei em dúvida sobre a quantidade de estrelas que tem lá... Alguns lugares parecem ter seu próprio céu...
Minha lista de possibilidades mora junto com alguns sonhos numa mesma caixinha. Gosto de pensar neles como sementes: ficam lá quietinhos e às vezes parecem nem ter vida, mas estão somente à espera de uma terra boa e condições necessárias para florescer.
Um sonho guardado há algum tempo é a minha casa no campo. O projeto ainda não foi definido; acho que será uma casa de madeira, bem aconchegante, com lareira ou fogão a lenha, muitas janelas e pedacinhos de jardim por todo lado. Também está decidido que terá varanda para redes e mesas com bancos bem grandes para receber amigos para refeições e jogos. Os outros detalhes tomarão forma enquanto ainda não tenho terra para a semente.
E enquanto não conheço outros lugares que me encantem, Lavras Novas segue como favorita na minha lista de possibilidades. Se eu fosse você iria até lá na próxima oportunidade, só para conferir se é mesmo tão especial. Se não quiser se tornar meu vizinho, pode ser que você receba um convite para ser meu hóspede algum dia, quando o sonho, o projeto, a terra e as condições se juntarem...