Até as tardes de chuva são
diferentes no interior. Gosto delas. Aliás, gosto de chuva em qualquer lugar,
mas aqui é diferente porque as nuvens negras apenas anunciam que vai cair água –
muita, no caso de hoje! – Não carregam a preocupação com os desastrosos
alagamentos que as chuvas de Verão têm causado lá na capital.
Aqui a chuva é bem-vinda,
celebrada! Significa que depois do Sol forte e do calor do dia a noite virá
fresca. E que os homens do campo, recém-chegados da lavoura, dormirão tranqüilos
e agradecidos porque chuva e sol tem se juntado ao seu esforço para garantir a
fartura das colheitas daqui a poucos meses.
E quando esgotam o
reservatório que tinham para agora as nuvens deixam aparecer pedacinhos de azul
e ainda permitem que o Sol lance seus raios de despedida sobre a Terra. Há
tantas promessas nesse espetáculo dourado!
O verde das plantas é
acentuado e mais brilhante depois da chuva. Papai diz que elas agradecem pela
água e vendo-as agora consigo entender sua linguagem: é uma maneira linda de
agradecer! Acho que a revoada barulhenta das maritacas e o canto sincronizado
das saracuras também devem ser por pura gratidão (teriam elas um maestro no
bando?). Imaginando o sorriso do Criador diante de tanta vida, tão ruidosa,
colorida e bonita em cada detalhe, não posso deixar de sorrir também, grata
pelo prazer de contemplar todo esse espetáculo da minha varanda transformada em
camarote.
Pitadas de magia e beleza
contidas nas coisas simples de todo dia, transformadas em presentes para encher
o coração de alegria! Longe de ser comum, longe de ser direito meu, longe de
ser obrigação do Criador. É graça – favor não merecido –, amor desenhado pra eu
entender!
Sim, é muito bom estar de
folga e poder estar em casa! Bom que o Senhor sabe que as lágrimas fáceis agora
misturadas aos sorrisos bobos são a minha forma de agradecer... E é muito bom
poder desfrutar as delícias de uma tarde de chuva!