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10 de jun. de 2012

Sobre o mais Belo Horizonte



 
“... quem sabe isso quer dizer amor...” Lô e Márcio Borges

Fazia tempos que eu não me entregava ao prazer ocioso de caminhar pela cidade. Nessa época do ano as temperaturas agradáveis e o sol com pouca intensidade são um convite à caminhada. Não daquelas com ritmo marcado, que pretendem fazer bem apenas ao corpo, mas dessas que nos permitem apurar os sentidos e perceber o mundo à nossa volta, beneficiando corpo e alma.

Dia desses recebi o tal convite. Sabendo de alguns desses benefícios e como boa mineira que sou, nem pensei em resistir – ah, sim, é importante que você saiba que se um mineiro lhe faz algum convite ou oferta, a recusa é uma ofensa, mineiramente chamada de desfeita. Não importa que o mineiro em questão seja o dia ou o clima.

Aceitei o convite. Coloquei agasalhos suficientes para proteger-me do vento frio e lá fui eu – pé na rua, sem compromisso com o relógio, sabendo apenas por onde começar a andar.
Manhã ainda, últimos dias de Outono. E era 12 de junho, o dia que não sei quem decidiu dedicar aos namorados. Fosse puro esforço comercial ou não, fato é que o dia tinha uma atmosfera diferente. E nem precisei estar apaixonada para notar.

É bem verdade que amo Belo Horizonte. Engraçado que nem nasci aqui. E essa é exatamente uma das delícias da vida: poder escolher. Presenteada que sou, podendo escolher uma cidade para morar e para amar. Capital com ares de interior. Vai, dia após dia se afirmando como metrópole, mas ainda posso chamá-la carinhosamente de “roça grande”. Sim, porque é na roça que se encontra os amigos e conhecidos sem se ter agendado encontro. Não era para acontecer numa cidade que conta seus habitantes em milhões! Gente de todo tipo, um monte de sotaques e até idiomas que não o nosso. Gente desconfiada por fora, mas de uma simpatia sem tamanho, sempre disposta a um dedo de prosa. Que o digam nossos bares e cafés! Pode até ser comum para os outros. Para mim tem um quê de magia nisso tudo... Cotidiano para ser celebrado, festividade!

Alegro-me sempre que posso viver dias assim! Só tenho o trabalho de deixar mente e coração abertos, sentidos alerta, porque nesses dias minha felicidade custa bem pouco.

Primeira parada: Praça da Savassi. Dali se vê bem toda essa diversidade! Reduto de gente jovem, bonita e descolada, que se mistura a moradores antigos e famílias tradicionais. Gosto dali! Mas a visita de hoje foi para uma coisa só: lá estava a Big Band, com seus jovens e talentosos músicos, enchendo a rua com seu bom som. E fiz a única coisa que eu poderia, diante de tanta graça: sentei e apreciei. Como é bom!

Não consegui saber de onde vinha tão grande quantidade de bolinhas de sabão, mas me encantei com sua dança, compondo um balé bem bonito com o Sol e o vento. Na platéia, as crianças da família coreana e eu, aplaudindo cada movimento. As bolinhas exibiam todo o seu brilho, transparência e reflexos em tons de arco-íris e depois, de tão orgulhosas estouravam, sendo logo substituídas por outras, que também se mostravam exímias bailarinas. Continuaram sua dança mesmo quando cessou a música; eu ficaria lá para ver o final de seu espetáculo, não fosse o friozinho convidando a caminhar um pouco mais.

Caminhar continua sendo a melhor maneira de conhecer os cantinhos de uma cidade e perceber detalhes dos caminhos que acabam ignorados na correria de todos os dias. Especialmente nesse trecho, penso que, mesmo após mil percursos, ainda terei o que descobrir. Indo em direção à Praça da Liberdade, fiquei observando aqueles casarões enormes, antigos e maravilhosos que a cercam, e que, a cada vez que vejo descubro um ou outro detalhe novo – apesar de bem velho.

Escrevo num momento que essa área – o Conjunto Arquitetônico da Praça da Liberdade – passa por significativas transformações. A maior parte dos prédios, depois de merecida revitalização, terá novo uso. São vários prédios ao longo das ruas por ali, e, mesmo sem saber ao certo a idade deles, fico imaginando quanta história eles guardam... Devem saber muito sobre Minas Gerais! Privilegiados que são, localizados bem onde até bem pouco tempo se decidia sobre os rumos do estado, devem se lembrar de acontecimentos importantes.

Agora essa história será lembrada aqui, enquanto continua a acontecer na nova Cidade Administrativa, que, como quase todas as obras do grande Niemeyer, encanta pelo porte e beleza. Cumprida sua missão política, o conjunto passa a abrigar um circuito cultural, atraindo, certamente muitos e muitos outros visitantes.

E lá está ela, convidativa como sempre! Para mim a praça funciona como um oásis em meio à turbulência da cidade. Não consigo passar por lá sem deixar que meus pensamentos viajem (até eles gostam!), e dessa vez não foi diferente.

Lugar perfeito para uma tarde de outono! Sentada num dos banquinhos, recebo lições sobre os hábitos dos passarinhos: “é o Azulão. O mais brilhante é o macho, a fêmea tem penas pretas. Os outros são os canários, mansinhos, descem para comer na mão da gente, mas aí vem os pombos que são grandes e os assustam!” – e o velhinho continua a alimentá-los, como faz todos os dias, pela manhã e à tarde... É surpreendente observar como a vida acontece ali!

E com a proximidade do inverno, o lugar reserva outra surpresa, capaz de me arrancar um sorriso só de pensar em sua exuberância: os ipês! Acho mesmo que os amarelos brilham mais, mas sua floração virá depois. Agora é a vez do cor-de-rosa, que com seus diversos tons faz um contraste lindo com o azul do céu. Cachos de flores que me lembram algodão-doce, e que continuam a emprestar sua beleza mesmo quando cansadas, formando um tapete sobre a grama e a calçada.


Descobri algo sobre os ipês que só fez crescer a admiração que tenho por eles: soube que, quanto mais velhas forem as árvores, maior será a quantidade de flores produzida, e que elas terão cor ainda mais intensa. Trata-se de um esforço para mostrar o cumprimento de sua missão de colorir e embelezar, ao mesmo tempo em que garante que as sementes, produzidas em maior escala, chegarão a lugares mais distantes, onde novos ipês brotarão. Incrível, não?! Ah, se os homens tivessem tal compromisso...

Ao final da tarde, ganho a companhia dos amigos para assistir ao espetáculo protagonizado pelo Sol, cheio de brilho e cores em sua despedida, lá na Lagoa da Pampulha. E nem precisamos de ingressos para a apresentação seguinte, bastando olhar para o lado oposto para ser surpreendidos pelo surgir da lua cheia, deixando seu rastro de luz na água, jogando seus reflexos prateados nos contornos da igrejinha. Não ter câmeras ali nem foi problema; penso que nem mesmo a melhor das lentes seria fiel ao que meus olhos viam. Cena para ser impressa no coração...

Subimos em direção ao Parque das Mangabeiras, lá de onde se tem um dos melhores ângulos desse Belo Horizonte. Qualquer um entenderia a razão do nome ao olhar a cidade de lá. Em noites frias como aquela a neblina brinca de esconde-esconde com a Serra do Curral. Era noite de festa, e lá estava a quadrilha mais animada de que já tive notícia, acompanhada do tradicional trio de forró pé-de-serra, convidando todo mundo a dançar até que as pernas não mais aguentassem.

Madrugada já, e, vencida pelo cansaço, concordo em voltar para casa.

E agora, tentando colocar na tela as impressões desse dia, percebo que simplicidade tem muito a ver com felicidade... E eu não me atreveria a defini-la aqui. Então, para compartilhá-la, convido você a passar um dia qualquer, não necessariamente de outono, em Belo Horizonte. Há muito o que ver e experimentar por aqui!

 Apenas tenha cuidado: há o risco de perceber-se apaixonado pela cidade e com uma vontade enorme de ficar por aqui! Nesse caso, saiba que o mineiro é um povo hospitaleiro, de quem certamente você ouvirá: bem-vindo a Belo Horizonte!