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1 de out. de 2012

Ainda existem?


Aí o exercício era buscar na memória elementos que fizeram parte da infância, e que andam sumidos desde que a gente cresceu. Pensei o caminho inteiro, e enfim achei três: ciganos, joaninhas e amoras.

Amoras – roubadas dos galhos que pendiam dos muros, é claro – eram motivo frequente de atrasos para o almoço, esticando o caminho entre casa e escola.

Joaninhas: pequenininhas muito exibidas, com poder de atração inversamente proporcional ao tamanho. Inseto de jardim, daqueles sem toque de paisagista. Mas me diz: quem nunca se encantou por aquela bolinha vermelha pintada de preto, e que ainda podia voar?

Já os ciganos chegavam em bandos, montados em cavalos que carregavam a tralha toda. Acho que era por causar medo (afinal, não eram eles que roubavam crianças pra fazer sabão?) que eles eram tão atraentes. A rua do acampamento era território proibido, não importa o quanto os pezinhos curiosos quisessem se dirigir pra lá.

E gostei do exercício! Bom aproveitar que chegou outubro, mês de criança, pra resgatar essas pitadinhas de alegria escondidas  nos baús de memória dentro da gente. E vou gostar se você quiser compartilhar os seus.

10 de jun. de 2012

Sobre o mais Belo Horizonte



 
“... quem sabe isso quer dizer amor...” Lô e Márcio Borges

Fazia tempos que eu não me entregava ao prazer ocioso de caminhar pela cidade. Nessa época do ano as temperaturas agradáveis e o sol com pouca intensidade são um convite à caminhada. Não daquelas com ritmo marcado, que pretendem fazer bem apenas ao corpo, mas dessas que nos permitem apurar os sentidos e perceber o mundo à nossa volta, beneficiando corpo e alma.

Dia desses recebi o tal convite. Sabendo de alguns desses benefícios e como boa mineira que sou, nem pensei em resistir – ah, sim, é importante que você saiba que se um mineiro lhe faz algum convite ou oferta, a recusa é uma ofensa, mineiramente chamada de desfeita. Não importa que o mineiro em questão seja o dia ou o clima.

Aceitei o convite. Coloquei agasalhos suficientes para proteger-me do vento frio e lá fui eu – pé na rua, sem compromisso com o relógio, sabendo apenas por onde começar a andar.
Manhã ainda, últimos dias de Outono. E era 12 de junho, o dia que não sei quem decidiu dedicar aos namorados. Fosse puro esforço comercial ou não, fato é que o dia tinha uma atmosfera diferente. E nem precisei estar apaixonada para notar.

É bem verdade que amo Belo Horizonte. Engraçado que nem nasci aqui. E essa é exatamente uma das delícias da vida: poder escolher. Presenteada que sou, podendo escolher uma cidade para morar e para amar. Capital com ares de interior. Vai, dia após dia se afirmando como metrópole, mas ainda posso chamá-la carinhosamente de “roça grande”. Sim, porque é na roça que se encontra os amigos e conhecidos sem se ter agendado encontro. Não era para acontecer numa cidade que conta seus habitantes em milhões! Gente de todo tipo, um monte de sotaques e até idiomas que não o nosso. Gente desconfiada por fora, mas de uma simpatia sem tamanho, sempre disposta a um dedo de prosa. Que o digam nossos bares e cafés! Pode até ser comum para os outros. Para mim tem um quê de magia nisso tudo... Cotidiano para ser celebrado, festividade!

Alegro-me sempre que posso viver dias assim! Só tenho o trabalho de deixar mente e coração abertos, sentidos alerta, porque nesses dias minha felicidade custa bem pouco.

Primeira parada: Praça da Savassi. Dali se vê bem toda essa diversidade! Reduto de gente jovem, bonita e descolada, que se mistura a moradores antigos e famílias tradicionais. Gosto dali! Mas a visita de hoje foi para uma coisa só: lá estava a Big Band, com seus jovens e talentosos músicos, enchendo a rua com seu bom som. E fiz a única coisa que eu poderia, diante de tanta graça: sentei e apreciei. Como é bom!

Não consegui saber de onde vinha tão grande quantidade de bolinhas de sabão, mas me encantei com sua dança, compondo um balé bem bonito com o Sol e o vento. Na platéia, as crianças da família coreana e eu, aplaudindo cada movimento. As bolinhas exibiam todo o seu brilho, transparência e reflexos em tons de arco-íris e depois, de tão orgulhosas estouravam, sendo logo substituídas por outras, que também se mostravam exímias bailarinas. Continuaram sua dança mesmo quando cessou a música; eu ficaria lá para ver o final de seu espetáculo, não fosse o friozinho convidando a caminhar um pouco mais.

Caminhar continua sendo a melhor maneira de conhecer os cantinhos de uma cidade e perceber detalhes dos caminhos que acabam ignorados na correria de todos os dias. Especialmente nesse trecho, penso que, mesmo após mil percursos, ainda terei o que descobrir. Indo em direção à Praça da Liberdade, fiquei observando aqueles casarões enormes, antigos e maravilhosos que a cercam, e que, a cada vez que vejo descubro um ou outro detalhe novo – apesar de bem velho.

Escrevo num momento que essa área – o Conjunto Arquitetônico da Praça da Liberdade – passa por significativas transformações. A maior parte dos prédios, depois de merecida revitalização, terá novo uso. São vários prédios ao longo das ruas por ali, e, mesmo sem saber ao certo a idade deles, fico imaginando quanta história eles guardam... Devem saber muito sobre Minas Gerais! Privilegiados que são, localizados bem onde até bem pouco tempo se decidia sobre os rumos do estado, devem se lembrar de acontecimentos importantes.

Agora essa história será lembrada aqui, enquanto continua a acontecer na nova Cidade Administrativa, que, como quase todas as obras do grande Niemeyer, encanta pelo porte e beleza. Cumprida sua missão política, o conjunto passa a abrigar um circuito cultural, atraindo, certamente muitos e muitos outros visitantes.

E lá está ela, convidativa como sempre! Para mim a praça funciona como um oásis em meio à turbulência da cidade. Não consigo passar por lá sem deixar que meus pensamentos viajem (até eles gostam!), e dessa vez não foi diferente.

Lugar perfeito para uma tarde de outono! Sentada num dos banquinhos, recebo lições sobre os hábitos dos passarinhos: “é o Azulão. O mais brilhante é o macho, a fêmea tem penas pretas. Os outros são os canários, mansinhos, descem para comer na mão da gente, mas aí vem os pombos que são grandes e os assustam!” – e o velhinho continua a alimentá-los, como faz todos os dias, pela manhã e à tarde... É surpreendente observar como a vida acontece ali!

E com a proximidade do inverno, o lugar reserva outra surpresa, capaz de me arrancar um sorriso só de pensar em sua exuberância: os ipês! Acho mesmo que os amarelos brilham mais, mas sua floração virá depois. Agora é a vez do cor-de-rosa, que com seus diversos tons faz um contraste lindo com o azul do céu. Cachos de flores que me lembram algodão-doce, e que continuam a emprestar sua beleza mesmo quando cansadas, formando um tapete sobre a grama e a calçada.


Descobri algo sobre os ipês que só fez crescer a admiração que tenho por eles: soube que, quanto mais velhas forem as árvores, maior será a quantidade de flores produzida, e que elas terão cor ainda mais intensa. Trata-se de um esforço para mostrar o cumprimento de sua missão de colorir e embelezar, ao mesmo tempo em que garante que as sementes, produzidas em maior escala, chegarão a lugares mais distantes, onde novos ipês brotarão. Incrível, não?! Ah, se os homens tivessem tal compromisso...

Ao final da tarde, ganho a companhia dos amigos para assistir ao espetáculo protagonizado pelo Sol, cheio de brilho e cores em sua despedida, lá na Lagoa da Pampulha. E nem precisamos de ingressos para a apresentação seguinte, bastando olhar para o lado oposto para ser surpreendidos pelo surgir da lua cheia, deixando seu rastro de luz na água, jogando seus reflexos prateados nos contornos da igrejinha. Não ter câmeras ali nem foi problema; penso que nem mesmo a melhor das lentes seria fiel ao que meus olhos viam. Cena para ser impressa no coração...

Subimos em direção ao Parque das Mangabeiras, lá de onde se tem um dos melhores ângulos desse Belo Horizonte. Qualquer um entenderia a razão do nome ao olhar a cidade de lá. Em noites frias como aquela a neblina brinca de esconde-esconde com a Serra do Curral. Era noite de festa, e lá estava a quadrilha mais animada de que já tive notícia, acompanhada do tradicional trio de forró pé-de-serra, convidando todo mundo a dançar até que as pernas não mais aguentassem.

Madrugada já, e, vencida pelo cansaço, concordo em voltar para casa.

E agora, tentando colocar na tela as impressões desse dia, percebo que simplicidade tem muito a ver com felicidade... E eu não me atreveria a defini-la aqui. Então, para compartilhá-la, convido você a passar um dia qualquer, não necessariamente de outono, em Belo Horizonte. Há muito o que ver e experimentar por aqui!

 Apenas tenha cuidado: há o risco de perceber-se apaixonado pela cidade e com uma vontade enorme de ficar por aqui! Nesse caso, saiba que o mineiro é um povo hospitaleiro, de quem certamente você ouvirá: bem-vindo a Belo Horizonte!

20 de mar. de 2012

Sobre as belezas do Outono

Foi pouco antes da longa chuva e das trovoadas assustadoras que me dei conta de que o Verão está indo embora. Deu pra ver quando o cenário da Praça da Liberdade começou a mudar. Nenhuma alteração na beleza: as pessoas continuam lá se exercitando, misturadas àquelas que, por qualquer motivo fazem desse seu caminho de todo fim de tarde. A vida continua acontecendo ao redor. O que há de diferente é a luz... Dezoito horas e mais nenhum raio de Sol.

O Astro-Rei vai se escondendo, protagonizando o espetáculo diário que os prédios em volta não me deixam ver por inteiro. Não lamento. Estou aprendendo a apreciar a beleza existente em todos os lugares e em todo tempo, mesmo que enxergá-la exija certo esforço.

Não é assim com o Verão, que não exige esforço nenhum. É um desses de beleza exibida, eufórica e contagiante. Nas palavras de Rubem Alves “o Verão é inquieto (...) tudo nele convida a sair e a agir”. Concordo. Com ares de adolescência, o Verão faz o Sol acordar cedinho e só o deixa ir quando o relógio insiste que já é noite. Tem umas variações de humor típicas da idade: abre um sorriso com o Sol pela manhã, para daí a poucas horas fechar a cara, esbravejar e se acabar em chuva. Seriam lágrimas? Traz consigo o calor, que coloca todo mundo em movimento. É agitação constante, com cara de festa e férias.

E como adolescente contrariado, não se vai sem antes dar demonstrações de rebeldia; tempestades e trovoadas são sua forma de dizer que não quer ir ainda. Mas o poeta já disse que as águas de março vêm para fechá-lo, e ele finalmente se rende, reconhecendo a soberania de quem o criou, e dá lugar ao Outono.

O Outono...De longe, minha época favorita do ano! Temporada de pores-do-sol mais dourados e deslumbrantes.Se o excesso de luz do Verão ofusca as cores, o Outono é especialista em iluminação. Transforma o céu do entardecer em aquarela, para inspiração dos artistas. Hora em que o Criador se põe a brincar com pincéis e tintas, colocando na mesma tela tons que vão do dourado ao negro, passando por inúmeras variações de vermelhos, roxos e azuis, numa combinação lindíssima.



Outra tela, de proporções menores, mas de beleza indiscutível é a Praça da Liberdade. Devo a ela uma visita de mineiro, sem pressa, para observar as pequeninas formas e cores que se escondem em cada cantinho. Quando passo apressada meus olhos se voltam para as belezas explícitas, os grandes canteiros – um de flores vermelhas e outro de alaranjadas; de longe não se vê flores, só dois grandes tapetes, que disputam minha atenção. Tapetes têm um tom de mistério. Ainda páro para descobrir o que eles escondem.

As árvores também tentam inutilmente fazer o seu. Mal sabem que os jardineiros – que aqui são aprendizes do Grande Artista – virão a qualquer hora desfazer suas tentativas.

E também há as hortênsias, ensaiando de forma tímida sua floração. Têm uma beleza exagerada, impossível não notar. Penso que as flores devem ser seu agasalho. Não parecem montinhos fofos de lã colorida? Se não fossem para aquecer, não estariam completamente vestidas até a chegada do inverno... Mas ainda não quero me adiantar à próxima estação.

Por enquanto vou pedir ao Criador que me ajude a apurar os sentidos para desfrutar de todas as surpresas do Outono. E perceber que essa superprodução é o desenho do que outro poeta já escreveu: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos.” E agradecer porque o Outono é a tradução dessa verdade para a minha linguagem...                                                     


P.S: A Turismóloga que há em mim insiste em recomendar que, passando por Belo Horizonte, não deixe de se perder por algumas horas na Praça da Liberdade. É tudo lindo por lá!

14 de fev. de 2012

De mudança




Tenho um gosto esquisito pela imprevisibilidade da vida. É verdade que a gente sempre tem roteiros e agendas, mas nunca tive nenhuma garantia de que os acontecimentos cumpririam o programa. É aí que mora um desafio gostoso: escolher entre sentar-se, reclamar e chorar ou botar a cabeça para funcionar e encontrar a forma de voltar a vida para os trilhos.


Vivo isso em períodos de mudança. E gosto. Não que as mudanças não me assustem, mas imagina que castigo ser a mesma coisa, no mesmo lugar a vida inteira. Não mesmo! Prefiro o movimento. E cá estou diante de uma mudança; dessas mais simples, ainda de proporções indefinidas. Talvez seja só de um apartamento para outro, talvez não passe de uma substituição de pessoas que moram no atual. De uma forma ou de outra, haverá reconfiguração.

Sei é que o que a mudança tem de desafio-encantador, de novas e inúmeras possibilidades, ela também tem de desconfortável. De repente, a casa arrumada de acordo com a cara dos moradores é desfeita. É um tal de desmonta daqui, embala dali... E as coisas feias da casa, antes maquiadas ou escondidas, agora são escancaradas. Já reparou? Mudanças revelam manias e hábitos estranhos, por vezes cultivados tão carinhosamente... Mas, sejamos sinceros, é uma ótima oportunidade de descartar entulhos e coisas que insistimos em guardar, mesmo não tendo mais utilidade. Ou, o que é melhor, podemos descobrir em nossos guardados objetos que ainda serão úteis para outras pessoas.

É um tempo de a gente se desapegar de coisas insignificantes, reaprendendo a valorizar o que é de fato importante. De saber que é perfeitamente possível viver bem sem todas as quinquilharias que julgamos indispensáveis. Um bom tempo para se livrar dos excessos, para que somente permaneça a essência. 

E confesso: é libertador olhar a casa vazia! Oportunidade de recomeçar. Página em branco, pronta para receber a história que eu quiser contar. Um convite ao exercício da criatividade que ás vezes se esconde. É que sentada no chão, no centro da sala sem móveis, me vem à memória a história da Criação, lá no princípio, quando somente havia o caos e o nada, e a partir daí, Deus fez surgir esse mundão todo! Inspirador, no mínimo.

Vazio propício para refletir sobre o que queremos que seja a casa nova, quais as pessoas serão bem-vindas, que energias desejamos atrair... Gosto mais ainda que isso aconteça agora, quando é início do ano e a gente tem bom estoque de ânimo e um monte de planos ainda frescos, acentuando a cara de recomeço.

Guardadas as proporções inevitáveis de desconfortos e desgastes, mudança é um tempo bom para rever nossa conduta e reorganizar nosso mundo, colocando coisas e pessoas em seus devidos lugares dentro dele. E, por que não? É tempo também de compartilhar a vida com outras pessoas, com gente diferente.

É por isso que aproveito a mudança para dizer algo aos meus amigos; aos antigos, fiéis e sempre presentes: faz tempo que vocês são uma espécie de âncora, oferecendo estabilidade pra que eu sempre atravesse períodos turbulentos assim, com leveza, conseguindo enxergar o mundo ainda em cores. Aos recém-conquistados, que fazem de cada encontro ou conversa uma deliciosa descoberta: vocês despertam em mim a paixão pelo imprevisível. A todos os meus amigos: assim como na minha vida, vocês são bem-vindos à nossa casa nova (ou nova casa, sei lá!). E quando vierem, brindaremos em celebração à novidade que pode ser cada dia! Quem tem amigos tem um tesouro. E quem tem amigos novos está livre do castigo de passar a vida inteira se refletindo em espelhos velhos!







2 de fev. de 2012

Ah, o Verão!



Adoro abrir as janelas bem cedo e já dar de cara com tanto brilho e tanto azul.

Adoro que as pessoas já acordem inquietas, e com os primeiros raios de Sol se ponham a caminhar e a correr, dando um movimento bonito às ruas, parques e praças.

Adoro que seja época de um bocado dessas frutas azedas, que transformadas em suco refrescam as tardes calorentas (benditos sejam o maracujá e a acerola!).

Adoro reconhecer o valor da água gelada, remédio pra curar a secura do corpo, por dentro e por fora.

Adoro as roupas, poucas, coloridas e a liberdade dos pés descalços.

Adoro os convites à leveza e aos assuntos menos sérios, aos fins de semana com toalha xadrez no parque, às boas companhias e conversas que se estendem noite adentro nas mesas das calçadas.

Adoro as tempestades no fim da tarde, que convivem em harmonia com o Sol, cumprindo as falas da moça do tempo. Banho de chuva que lava a alma...

Adoro que uma estação tenha, cá nessas terras tropicais, um horário só para ela, colocando tempo a mais em todas as tardes.

Adoro essa agitação com cara de festa e férias.

Adoro que seja Verão!



7 de jan. de 2012

De novo chuva




Até as tardes de chuva são diferentes no interior. Gosto delas. Aliás, gosto de chuva em qualquer lugar, mas aqui é diferente porque as nuvens negras apenas anunciam que vai cair água – muita, no caso de hoje! – Não carregam a preocupação com os desastrosos alagamentos que as chuvas de Verão têm causado lá na capital.

Aqui a chuva é bem-vinda, celebrada! Significa que depois do Sol forte e do calor do dia a noite virá fresca. E que os homens do campo, recém-chegados da lavoura, dormirão tranqüilos e agradecidos porque chuva e sol tem se juntado ao seu esforço para garantir a fartura das colheitas daqui a poucos meses.

E quando esgotam o reservatório que tinham para agora as nuvens deixam aparecer pedacinhos de azul e ainda permitem que o Sol lance seus raios de despedida sobre a Terra. Há tantas promessas nesse espetáculo dourado!

O verde das plantas é acentuado e mais brilhante depois da chuva. Papai diz que elas agradecem pela água e vendo-as agora consigo entender sua linguagem: é uma maneira linda de agradecer! Acho que a revoada barulhenta das maritacas e o canto sincronizado das saracuras também devem ser por pura gratidão (teriam elas um maestro no bando?). Imaginando o sorriso do Criador diante de tanta vida, tão ruidosa, colorida e bonita em cada detalhe, não posso deixar de sorrir também, grata pelo prazer de contemplar todo esse espetáculo da minha varanda transformada em camarote.

Pitadas de magia e beleza contidas nas coisas simples de todo dia, transformadas em presentes para encher o coração de alegria! Longe de ser comum, longe de ser direito meu, longe de ser obrigação do Criador. É graça – favor não merecido –, amor desenhado pra eu entender!

Sim, é muito bom estar de folga e poder estar em casa! Bom que o Senhor sabe que as lágrimas fáceis agora misturadas aos sorrisos bobos são a minha forma de agradecer... E é muito bom poder desfrutar as delícias de uma tarde de chuva!