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20 de mar. de 2012

Sobre as belezas do Outono

Foi pouco antes da longa chuva e das trovoadas assustadoras que me dei conta de que o Verão está indo embora. Deu pra ver quando o cenário da Praça da Liberdade começou a mudar. Nenhuma alteração na beleza: as pessoas continuam lá se exercitando, misturadas àquelas que, por qualquer motivo fazem desse seu caminho de todo fim de tarde. A vida continua acontecendo ao redor. O que há de diferente é a luz... Dezoito horas e mais nenhum raio de Sol.

O Astro-Rei vai se escondendo, protagonizando o espetáculo diário que os prédios em volta não me deixam ver por inteiro. Não lamento. Estou aprendendo a apreciar a beleza existente em todos os lugares e em todo tempo, mesmo que enxergá-la exija certo esforço.

Não é assim com o Verão, que não exige esforço nenhum. É um desses de beleza exibida, eufórica e contagiante. Nas palavras de Rubem Alves “o Verão é inquieto (...) tudo nele convida a sair e a agir”. Concordo. Com ares de adolescência, o Verão faz o Sol acordar cedinho e só o deixa ir quando o relógio insiste que já é noite. Tem umas variações de humor típicas da idade: abre um sorriso com o Sol pela manhã, para daí a poucas horas fechar a cara, esbravejar e se acabar em chuva. Seriam lágrimas? Traz consigo o calor, que coloca todo mundo em movimento. É agitação constante, com cara de festa e férias.

E como adolescente contrariado, não se vai sem antes dar demonstrações de rebeldia; tempestades e trovoadas são sua forma de dizer que não quer ir ainda. Mas o poeta já disse que as águas de março vêm para fechá-lo, e ele finalmente se rende, reconhecendo a soberania de quem o criou, e dá lugar ao Outono.

O Outono...De longe, minha época favorita do ano! Temporada de pores-do-sol mais dourados e deslumbrantes.Se o excesso de luz do Verão ofusca as cores, o Outono é especialista em iluminação. Transforma o céu do entardecer em aquarela, para inspiração dos artistas. Hora em que o Criador se põe a brincar com pincéis e tintas, colocando na mesma tela tons que vão do dourado ao negro, passando por inúmeras variações de vermelhos, roxos e azuis, numa combinação lindíssima.



Outra tela, de proporções menores, mas de beleza indiscutível é a Praça da Liberdade. Devo a ela uma visita de mineiro, sem pressa, para observar as pequeninas formas e cores que se escondem em cada cantinho. Quando passo apressada meus olhos se voltam para as belezas explícitas, os grandes canteiros – um de flores vermelhas e outro de alaranjadas; de longe não se vê flores, só dois grandes tapetes, que disputam minha atenção. Tapetes têm um tom de mistério. Ainda páro para descobrir o que eles escondem.

As árvores também tentam inutilmente fazer o seu. Mal sabem que os jardineiros – que aqui são aprendizes do Grande Artista – virão a qualquer hora desfazer suas tentativas.

E também há as hortênsias, ensaiando de forma tímida sua floração. Têm uma beleza exagerada, impossível não notar. Penso que as flores devem ser seu agasalho. Não parecem montinhos fofos de lã colorida? Se não fossem para aquecer, não estariam completamente vestidas até a chegada do inverno... Mas ainda não quero me adiantar à próxima estação.

Por enquanto vou pedir ao Criador que me ajude a apurar os sentidos para desfrutar de todas as surpresas do Outono. E perceber que essa superprodução é o desenho do que outro poeta já escreveu: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos.” E agradecer porque o Outono é a tradução dessa verdade para a minha linguagem...                                                     


P.S: A Turismóloga que há em mim insiste em recomendar que, passando por Belo Horizonte, não deixe de se perder por algumas horas na Praça da Liberdade. É tudo lindo por lá!